A Petrobras voltou a praticar preços abaixo da paridade internacional, de acordo com a Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), que enviou carta sobre essa questão para a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). A prática de preços abaixo da paridade foi, no passado, uma das principais críticas à gestão da petroleira. Os preços controlados na época do governo petista geraram prejuízos e a conta da área de abastecimento da estatal costumava não fechar. Sérgio Araujo, presidente da Abicom, entidade que representa 70% do volume de combustíveis importado e cerca de 20% do ofertado, afirmou que em Estados como Amazonas, Maranhão, Pernambuco, Bahia, São Paulo e Paraná, os importadores não estão conseguindo chegar com preços iguais ou abaixo dos praticados pela Petrobras. No dia 1º de dezembro, a estatal anunciou revisão do cálculo de paridade com preços internacionais para o diesel, avisando que, por isso, o preço do combustível cairia 5,7% no dia seguinte. Segundo fontes do setor, a Petrobras pode ter reduzido os preços porque vinha perdendo participação de mercado com a nova política, ao deixar espaço para a importação. “Essa janela para importação levou ao crescimento de distribuidoras regionais e viabilizou a oferta para os chamadas postos bandeira branca”, contextualizou o executivo de uma das maiores distribuidoras nacionais, que preferiu falar sob anonimato. É unânime entre as empresas que a dinâmica do setor mudou significativamente neste ano. Mas o corte nos preços promovido recentemente reduziu a atratividade da importação de combustíveis. Sérgio Araujo explica que as companhias que atuam com importação têm investido em projetos de expansão em terminais portuários, que poderiam, futuramente, garantir o abastecimento. O risco de desabastecimento tem sido cada vez mais abordado por especialistas e autoridades. De acordo com Araujo, a redução de preços causou uma preocupação “muito grande quanto à sustentabilidade das atividades” das empresas do segmento, porque os preços, segundo os importadores, estão abaixo da paridade. “Hoje não há previsão certa por parte da Petrobras de investimento em infraestrutura e em logística, por isso o risco de a empresa não poder atender à demanda”, ressalta Araújo. Na visão dele, haveria um risco de colapso no abastecimento e as companhias de importação vinham fazendo investimentos. “Na minha leitura, a prática de preços deste momento pode caracterizar o subsídio aos preços, porque estes estão abaixo da paridade”, diz. “O receio é que isso desestimula os investimentos que estão sendo realizados”, afirma Araujo. Analistas de bancos dizem que a Petrobras de fato reduziu de forma significativa os prêmios, a fim de combater as importações e, consequentemente, aumentar a utilização das refinarias domésticas. Contudo, alertam que a conclusão sobre se os preços estão ou não abaixo da paridade não é tão simples, porque a petroleira pratica preços distintos nas regiões e a conta deve considerar o câmbio e a oscilação dos preços dos derivados. Ou seja, o resultado desse cálculo é dinâmico. Conforme um analista, no Norte e no Nordeste, por exemplo, o prêmio costuma ser bem menor na comparação com o Sul e o Sudeste. De acordo com o executivo do setor de distribuição consultado, a Petrobras tem implementado alguns movimentos que não estão diretamente ligados às variações do mercado. “Mas o modelo dela nunca ficou 100% claro”, garante. “O fato é que as empresas não têm hoje ganhos nas importações”, afirma. Ele explicou que os preços variam de porto a porto. Os preços, no geral, ou estão em linha com a paridade ou, em alguns casos, já inviabilizam as importações, ou seja, há desconto, garante. O Goldman Sachs calcula que os preços domésticos atuais implicam um prêmio médio ponderado para a paridade de US$ 7,6 por barril. Desde a revisão da política de preços da petroleira, o prêmio implícito ficou entre US$ 7 e US$ 9 por barril. Já entre outubro de 2016 e abril de 2017, ficou em um intervalo entre US$ 14 e US$ 16 por barril. Em relatório, os analistas do banco, Bruno Pascon, Victor Hugo Menezes e Gabriel Francisco, dizem que, com o prêmio atual, estimam um impacto negativo de R$ 10,7 bilhões no Ebitda da Petrobras estimado para 2018, de R$ 108,7 bilhões, caso esse nível se mantenha. Ainda segundo o Goldman Sachs, desde a revisão da política de preços anunciada no fim de junho, a petroleira elevou em 17,9% o preço do diesel e em 20,8% o da gasolina. Procurada, a Petrobras reafirmou que sua política de preços para o diesel e gasolina tem operação sempre com margem positiva, acima da paridade internacional. Já a ANP respondeu que não cabe a ela comentar as decisões de negócios das empresas do setor. Na quinta-feira (7), a Petrobras informou que decidiu rever a metodologia que vem sendo aplicada aos reajustes do GLP de uso residencial, comercializado em botijões de 13 kg. “A metodologia a ser definida buscará suavizar os impactos derivados da transferência da volatilidade internacional para os preços domésticos e não perpetuar efeitos sazonais desfavoráveis”, informou, sem dar mais detalhes.
Fonte: Jornal do Comércio