A União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio) não aceita esperar mais. Para Juan Diego Ferrés, presidente do Conselho Superior da mais antiga entidade representativa do setor de biodiesel, a protelação no novo aumento da mistura obrigatória por até nove meses não é algo trivial e pode causar perdas irreversíveis tanto ao setor quanto ao país como um todo. “Alterar as regras em cima da hora é uma insensatez que nos indigna”, disse o executivo e decano da indústria em entrevista exclusiva à BiodieselBR.com.
BiodieselBR.com – Ao contrário do relatório anterior que aprovou o B10 “sem restrições”, as conclusões no relatório do B15 não foram unânimes. Ainda assim, a opinião da Ubrabio, seria possível adotar o B11?
Juan Diego Ferrés – Os testes foram realizados pelas próprias montadoras e tiveram resultados individuais majoritariamente favoráveis. Foram 41 ensaios com resultados 100% positivos para B15 e, em alguns casos, até para B20. Em apenas três testes houve não conformidade. Chega a causar estranhamento o posicionamento pela não recomendação do B15. Não somos contra a realização de testes adicionais. Quanto mais testes, melhor! Mas somos contra a alteração do cronograma do B11, pois não existem motivos objetivos que fundamentem tal decisão. O atraso na progressão traz prejuízos ao RenovaBio e ao desenvolvimento do próprio país, uma vez que essa política foi formulada para que o Brasil avance na economia de baixo carbono e fortaleça a indústria nacional.
BiodieselBR.com – Ainda que seja uma posição minoritária, a existência de resultados negativos não faz do adiamento do B11 a decisão mais prudente?
Juan Diego Ferrés – Houve averiguação a respeito das causas dessas três ocorrências que afastaram do biodiesel a responsabilidade de ter sido o causador.
BiodieselBR.com – O que teria provocado os problemas então?
Juan Diego Ferrés – Nos causou espanto que alguns cuidados com o combustível fóssil usado tenham sido negligenciados. Há indícios fortes de que o problema da oxidação da mistura pode estar relacionado com a origem do combustível fóssil. Os lotes de B15 e B20 feitos a partir de diesel proveniente das refinarias de Araucária (PR) e Duque de Caxias (RJ) oxidavam mais rapidamente do que lotes feitos com o diesel de Paulínia (SP). Esse ponto deveria ter merecido mais atenção pelas equipes que realizaram os testes. Felizmente tais resultados foram abertamente discutidos e confirmaram a possibilidade de continuarmos progredindo nessa caminhada em prol da sustentabilidade e do melhor aproveitamento das potencialidades econômicas e sociais do Brasil.
BiodieselBR.com – Que prejuízos o adiamento do B11 poderia causar?
Juan Diego Ferrés – Essa tergiversação sobre os resultados objetivos coloca em risco, caso o governo venha a acatar as alegações da Anfavea, todo cronograma anteriormente definido para os aumentos de mistura. Seria uma insensatez, à luz das informações objetivas que temos em mãos. Não é trivial procrastinar o aumento de um ponto percentual da mistura obrigatória. Esse único ponto representa um salto de 10% na demanda de biodiesel com risco de refletir, como um efeito dominó, sobre todos demais aumentos futuros. Trata-se de uma perda igualmente progressiva, cumulativa e irreversível ao Brasil e ao meio ambiente. Paradoxalmente, prejudicaria até mesmo as associadas da Anfavea e demais fabricantes de motores diesel, cuja sobrevivência tecnológica depende do desenvolvimento acelerado do maior uso de biocombustíveis. Alterar as regras em cima da hora é uma insensatez que nos indigna. Por isso, a Ubrabio continuará empenhada em fazer prevalecer a fidelidade aos resultados objetivos e, principalmente, baseados na materialidade documentada nos resultados dos testes.
BiodieselBR.com – Ainda seria possível que o B11 seja adotado no L66?
Juan Diego Ferrés – Sim. Ainda está em tempo do MME designar que as determinações do CNPE sejam mantidas e que o B11 seja adotado a partir de 1º de junho. Os testes exigidos foram realizados com êxito e, não obstante o aparecimento daqueles três problemas, ficou demonstrada a viabilidade. O que temos aqui não é um caso de combustível contaminado, mas de um processo contaminado.
Fonte: BiodieselBR.com